terça-feira, 4 de novembro de 2008

Eu e maluquinho!

Mais uma segunda-feira de dever cumprido, se é que podemos classificar assim o dia de expediente encerrado. Chego tarde da noite em casa e costumo ter insônia, pois ainda não me adaptei ao meu novo horário de serviço. Depois de um banho relaxante, a companhia da televisão e do velho violão são sempre muito bem vindos, hábito novo que criei. Geralmente tento criar alguma letra, uma melodia nova, mas a falta de inspiração nessa noite é mais forte do que eu.
Olho então para o sofá de casa e tenho uma recordação muito forte daquele dia, do momento exato e da entonação na fala dela. Foi há mais de vinte anos atrás, quando eu ainda era um garoto de sete anos que cursava a 1º série do que chamamos hoje de ensino fundamental, que minha mãe chegou e casa com uma coisa denominada por ela mesma como uma surpresa para mim. Chutei tudo que me passava pela cabeça, menos que aquele embrulho se tratava de um livro, aliás, o primeiro que eu que acabara de ser alfabetizado ganhara na vida.
A obra era a pérola da literatura infantil brasileira chamada “O menino Maluquinho”, de Ziraldo. Rapidamente a li, reli, enfim, adorei. Queria ser como o próprio menino, correr feito vento, dormir e roncar como trovão e outras coisas. Mas a infância foi se passando e vieram novas fases, novas coisas na vida e eu nem ao menos recordava disso, ficou para trás...
Porém outro dia caminhando pela rua ouvi uma voz dizer: “O tio, pega a bola pra mim!”. Continuei andando normalmente, mas ouvi a mesma pessoa falar: “O tio, por favor, vai...”, com a voz meio desolada agora.
Parei, olhei para um lado, para o outro, e não havia mais ninguém na rua,somente eu. Cheguei à óbvia conclusão que o “tio” a quem o garoto se referia era eu!
Chutei a bola para ele e o ouvi dizer em tom alegre: ”Poxa, valeu tio”. Pensei comigo que esse fato era totalmente novo para mim, surpreendentemente chocante!
Eu ter sido considerado um “tio” me fez recordar meus tempos de criança, bem aqueles que eu queria ser como Maluquinho.
No fim das contas acho que me tornei meio ao acaso um pouco do personagem de Ziraldo. Assim como ele virei um cara legal- pelo menos eu acho que sou- que leva a vida a cantar, mas nossa principal semelhança talvez seja essa: nós dois não conseguimos segurar o tempo, e ele sempre passa!

Marcos Paulo Moreno Felix 07/05/08

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