quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Faz anos que nos conhecemos. Já falei em outro texto deste blog sobre como acho que o senhor tempo passa rápido demais sem que possamos controlá-lo, sem que queiramos que passe... Pois é, esta é a sensação que sinto em relação a isso: o tempo.
Completei 29 anos de vida quinta passada e foi tudo tão rápido... Há 24 anos atrás eu havia acabado de mudar para o bairro do Rudge Ramos. Morava em Diadema em uma casa que pertence até hoje ao meu avô materno, mas meu pai conseguiu enfim concluir o tal sonho da casa própria. Como quase todas as crianças desta faixa etária, eu adorava jogar bola, e isso também era cultivado por Leonardo Januzzi. Foi exatamente assim o nosso primeiro contato, jogando bola. Havia no condomínio onde residimos um play ground com dois tanques de areia que serviam como se fossem dois gols. Lê chegou com uma bola de capotão novinha e perguntou se eu queria jogar com ele. Pronto, era o começo de tudo! Engraçado, ficamos amigos rapidamente. Vivíamos sempre juntos, jogando bola, botão ou na escola (fazíamos juntos o pré). Lembro que tomei um grande susto, pois certa vez minha mãe veio me falar que meu amigo Lê iria fazer uma operação e ficar uns dias sem poder brincar comigo. Naquela época eu me recordo de não saber bem o que aquilo dizia exatamente, muito menos dos riscos de tal coisa, mas fiquei triste. Ele na verdade tinha um problema no coração e precisou fazer uma cirurgia complicada, que aliás, quase o matou. Lê saiu do hospital perto do natal e queria me ver. Sua mãe o trouxe. Ele estava um pouco abatido, tinha uma cicatriz no peito, mas estava bem.
Fomos crescendo aos poucos e nossa amizade foi amadurecendo. Sempre juntos. Não tivemos grandes aventuras, raras vezes saímos juntos em baladas, festas e afins, pois Leonardo sempre foi um cara recatado, tranqüilo. Nunca foi da noite, da madrugada, não gosta. Na verdade nossa cumplicidade vem de nossos pensamentos, que quase sempre são iguais, de nosso jeito semelhante e de nossa educação. Poucas vezes brigamos ou discutimos na vida, a não ser pela sua paixão e devoção pelo Corinthians e eu a minha pelo Santos. Este ano ele ficou noivo. Se emocionou, chorou.... Eu também quis chorar, mas consegui sorrir! Fico feliz por Deus ter me dado o privilégio de ser amigo de tão nobre pessoa e de nossas vidas estarem caminhando bem, sem que percamos o nosso foco, sem que prejudiquemos alguém... Uma nova etapa está prestes a surgir em nossas vidas, afinal estamos beirando a casa dos 30 anos (Lê faz 29 em maio próximo), e o parquinho de areia nem existe mais...

Marcos Paulo Moreno Felix 04/1202008

sábado, 15 de novembro de 2008

Vale tudo?

Sebastião Rodrigues Maia era o nome de batismo dado por Altivo Maia e Maria Imaculada ao décimo segundo filho do casal. O Brasil inteiro conheceria anos depois Sebastião por Tim, apenas Tim, enquanto o Maia teria a função de continuar puxando o forte sobrenome da família. Desde muito pequeno sempre ouvi meu pai, Antônio Paulo, cantando músicas do rei do soul brasileiro numa levada e num estilo muito parecidos com os do próprio. Admirava a capacidade musical de meu velho, que ainda me fez procurar saber quem era aquela pessoa de que ele tanto gostava de escutar. Cresci ouvindo sons e melodias de Tim. Tenho músicas decoradas, sei suas piadas e suas maneiras de cantar, mais não sabia bem a fundo sobre sua vida. Quando o jornalista e produtor musical Nelson Motta lançou a biografia de Tim -Vale Tudo-, logo me interessei pelo assunto e a comprei. Me impressionei muito com o estilo de vida adotado pelo personagem, totalmente desregrado e em muitas vezes até engraçado. Histórias hilariantes são narradas de forma brilhante, como o dia em que ele simplesmente fugiu do SPA em que ele próprio se internou e passou o dia quase inteiro em uma churrascaria. Ou então o dia em que recusou um convite para participar de um show dos Titãs dizendo a Branco Mello: “ Pô Branco, não vou aos meus shows, imagine nos seus...” Ainda temos a verdade sobre sua desilusão com a cultura racional, seus amores e desamores, sua prisão... Ele era totalmente polêmico e irreverente, nunca escondeu de ninguém seu vício pelas drogas e muito menos se preocupou em tentar parar de usá-las. Foi completamente brilhante em muitos discos, mas fracassou em outros por puro desleixo. Para nós, meros amantes da música e de Tim é muito engraçado ler suas falcatruas mil. Mas imagino que as tantas pessoas a quem ele prejudicou não gostariam de vê-lo nem pintado de ouro. Li um artigo de uma psicóloga falando sobre o filme “Cazuza - O tempo não para” e achei muito interessante. Ela diz em seu texto que temos de parar de cultuar pessoas que tiveram um comportamento imoral perante á sociedade, como se estes seres tivessem sido grandes exemplos de vida. Até concordo com ela em muitos sentidos, mas cabe a cada um de nós ter a capacidade de discernir o que é certo e o que é errado. A sociedade é um conjunto de normas e padrões a serem cumpridos rigidamente para podermos agradar ao próximo. Mas pra quê? Pode ser assim que se enquadravam os pensamentos de Cazuza, de Raul, de Kurt e de Sebastião Maia... Para Tim valeu cada segundo de sua vida, podem ter certeza! Ele arcou com as conseqüências de suas atitudes. A nós, através de nossos valores (mescla de coisas aprendidas em nossa infância com nossos pais, parentes, amigos e depois complementadas a vida de cada um), resta a missão de definirmos nosso modo de vida, sem ter que se espelhar ou cultuar ninguém. O que é realmente certo? O que é errado? Cabe a cada um de nós saber julgar bem no nosso íntimo e definir se Vale Tudo, e assim cultuaremos de forma positiva ou negativa Tins, Bens e tais...

Marcos Paulo Moreno Felix - 13 de novembro de 2008

terça-feira, 4 de novembro de 2008

Eu não sei dançar...

Marcos, vai lá filho! Dança só um pouquinho pra mamãe e o papai verem! Todos os meninos estão lá, menos você bobo...
Estes foram os argumentos de minha mãe para que eu participasse de um concurso de dança na colônia de férias do Sesc Bertioga quando eu tinha aproximadamente 7 anos. Por que estou falando sobre isto agora? Bem, um dia estava num bate papo bem bacana na casa de amigos falando sobre casos inesquecíveis que ocorreram em nossas infâncias. Marina me revelou que quando se lançou num salto que tinha a pretensão de ser o coroamento de sua performance musical dançando lambada com seu irmão Pablo, o mesmo não a agüentou e caiu para trás, tornando o fato um de seus maiores micos. Os dois abraçados e estatelados ao chão.
Comigo foi meio diferente, não que o final tenha sido feliz...
Quando enfim tomei coragem de entrar na pista de dança após o forte poder de persuasão da dona Marisa, olhei ao redor e simplesmente perdi meus pais de vista (era a miopia dando seus primeiros passos em minha direção). Tive que encarar aquilo sozinho. O DJ ligou o som no talo, e eu não conhecia sequer a canção. Nem me lembro até hoje que música era, só me recordo que era dançante! Os meninos ao meu redor dançavam, faziam passos, tinham algum talento, enquanto eu ficava fazendo um tipo dois pra lá, dois pra cá...
Estava tão sem graça com aquilo que tinha vontade de sair correndo. Foi quando ouvi de algum canto meu pai gritar: “Dança aí meu!”
Aquilo me soou meio irônico, mas me deu um novo ânimo para competição. A música já devia estar pela metade, e eu tinha a carta na manga. Meus “colegas” nem saberiam de onde viria o golpe. Estava tudo arquitetado em minha mente. Tomei a frente da pista, engoli a seco e recorri a ele, o Rei do Pop, Michael Jackson!
Claro, quem mais poderia me salvar de uma enrascada dessas? O meu conceito de dança e coreografia musical se baseava (e até hoje se baseia) em Michael. Comecei a tentar a coreografia de Thriller misturada com Billy Jean. Dava passos e gritava: Uh!, como fazia o próprio Jackson. Senti o salão ferver! Risadas cada vez mais altas e gente quase que chorando literalmente... Era eu que causava esse alvoroço todo?, me perguntava em voz baixa enquanto rodopiava e gritava no salão. Finalmente a música terminou, a luz se acendeu e vi meus pais. Estava eufórico, louco pra ver a cara de orgulho deles depois de minha grande apresentação, mas quando dei por mim não eram só meus pais que me olhavam. O salão inteiro ria de mim, da minha dança estranha, das minhas piruetas que nem de longe lembravam Michael. Senti vergonha e vontade de chorar. Quis culpar minha mãe pelo fracasso. Ela me disse: “Filho...”, querendo rir!
Eu apenas balancei a cabeça falando baixinho: “Eu não sei dançar...”, já chorando e tentando disfarçar... O vencedor do concurso ganhou um sorvete Kibon. Meu pai também me comprou um como consolo. Peguei trauma da dança, por isso acho que toco. Hoje em dia arrisco algo de vez em quando, mas prefiro ficar na companhia do meu violão!

Marcos Paulo Moreno Felix, 04 de novembro de 08

Eu e maluquinho!

Mais uma segunda-feira de dever cumprido, se é que podemos classificar assim o dia de expediente encerrado. Chego tarde da noite em casa e costumo ter insônia, pois ainda não me adaptei ao meu novo horário de serviço. Depois de um banho relaxante, a companhia da televisão e do velho violão são sempre muito bem vindos, hábito novo que criei. Geralmente tento criar alguma letra, uma melodia nova, mas a falta de inspiração nessa noite é mais forte do que eu.
Olho então para o sofá de casa e tenho uma recordação muito forte daquele dia, do momento exato e da entonação na fala dela. Foi há mais de vinte anos atrás, quando eu ainda era um garoto de sete anos que cursava a 1º série do que chamamos hoje de ensino fundamental, que minha mãe chegou e casa com uma coisa denominada por ela mesma como uma surpresa para mim. Chutei tudo que me passava pela cabeça, menos que aquele embrulho se tratava de um livro, aliás, o primeiro que eu que acabara de ser alfabetizado ganhara na vida.
A obra era a pérola da literatura infantil brasileira chamada “O menino Maluquinho”, de Ziraldo. Rapidamente a li, reli, enfim, adorei. Queria ser como o próprio menino, correr feito vento, dormir e roncar como trovão e outras coisas. Mas a infância foi se passando e vieram novas fases, novas coisas na vida e eu nem ao menos recordava disso, ficou para trás...
Porém outro dia caminhando pela rua ouvi uma voz dizer: “O tio, pega a bola pra mim!”. Continuei andando normalmente, mas ouvi a mesma pessoa falar: “O tio, por favor, vai...”, com a voz meio desolada agora.
Parei, olhei para um lado, para o outro, e não havia mais ninguém na rua,somente eu. Cheguei à óbvia conclusão que o “tio” a quem o garoto se referia era eu!
Chutei a bola para ele e o ouvi dizer em tom alegre: ”Poxa, valeu tio”. Pensei comigo que esse fato era totalmente novo para mim, surpreendentemente chocante!
Eu ter sido considerado um “tio” me fez recordar meus tempos de criança, bem aqueles que eu queria ser como Maluquinho.
No fim das contas acho que me tornei meio ao acaso um pouco do personagem de Ziraldo. Assim como ele virei um cara legal- pelo menos eu acho que sou- que leva a vida a cantar, mas nossa principal semelhança talvez seja essa: nós dois não conseguimos segurar o tempo, e ele sempre passa!

Marcos Paulo Moreno Felix 07/05/08

Quem é a vítima?

São Caetano do Sul, SP, 14 de fevereiro de 2008. Uma quinta feira de sol, aproximadamente 17 hs. Acabara de voltar de Mauá, cidade onde eu estava trabalhando, para realizar um exame médico admissional do que poderia ser a possibilidade de meu novo emprego. Este dia foi mais um daqueles que a gente nunca se esquece em nossas vidas, tanto pela forma como foi quanto pela problemática social embutida no tema. Após fazer um exame de vista em uma clínica de olhos localizada na rua Baraldi, parei em uma ótica quase em frente à mesma para consultar o vendedor sobre preços de óculos e afins. Estava vestido com calça jeans, tênis e camiseta. Também havia comigo uma mochila cheia de roupas sujas de serviço. Conversava normalmente com os donos da loja, que me passaram à impressão de serem pessoas simpáticas. Não estavam tratando bem o cliente apenas por se tratar do habitual “o freguês tem sempre razão”, mais sim por que pareciam pessoas de bom coração. Estávamos somente nós três, eu e o casal, quando ouvi passos rápidos e uma voz dizer em alto e bom som: “Larga a mochila no chão, não olha pra trás, ponha as mãos na cabeça e encosta na parede!” Obedeci à ordem dada a mim e numa rapidez enorme já havia um homem me fazendo uma revista. Enquanto um deles me espremia com as mãos querendo achar algo em meu corpo o outro empunhava apontada em minha direção, mais precisamente em minha cabeça, o que me parecia ser – digo parecia por que não sou especialista em armas de fogo – um rifle calibre 12. Os donos da ótica estavam mumificados, pálidos e com medo. O policial que me fez a revista percebendo o desconforto dos lojistas tratou de começar a acalmá-los, enquanto o policial que me apontava a arma deu uma nova ordem: “Cola lá fora pra gente trocar uma idéia”, disse em voz baixa. Fui caminhando com as mãos ainda na cabeça e saí quase em frente à avenida Goiás, onde carros e mais carros com gente curiosa me fitando passavam lentamente. O homem agora já sem armas em punho me olhou bem nos olhos e me questionou: “E ae, qual é a fita?” Eu respondi a ele: “ Nenhuma, eu acho que...” Cala a boca, ainda estou falando, disse o soldado. Onde você mora? Trabalha? Ta devendo algo pra lei? Tem passagem? Cadê seus documentos? Moro no bairro do Rudge Ramos senhor, trabalho em Mauá, não devo nada a lei e não tenho passagem. Meus documentos estão no meu bolso de trás, posso pegar?, perguntei. Ele me deixou pegar a carteira. Pediu para eu abri-la e pegar meu RG e tal. Viu que havia um documento meio esverdeado junto e perguntou do que se tratava. Eu lhe disse que era o documento do meu carro. Pegou também e chamou com um grito só seu parceiro que ainda estava dentro da ótica. Enquanto um vinha de dentro da loja o outro foi à viatura pesquisar informações sobre minha pessoa. O meu novo acompanhante parecia estar meio sem graça pela situação e começou a me perguntar coisas do tipo: “Que time você torce? Quantos anos você tem? Qual sua profissão? É casado cara? Pôxa, você que é feliz hein velho, se eu fosse solteiro... Olha, eu sei que é ruim, mas estamos fazendo isso para sua segurança também viu, esse é um procedimento comum da polícia militar.” O breve papo acabou, ficamos os dois ali, meio amarelos. O outro voltou, passou por mim e nem olhou na minha cara, entrou direto na loja. Fiquei sem entender nada. Deu um novo grito lá de dentro dizendo que eu poderia entrar. Autorizado, adentrei novamente o recinto e vi o tal sujeito dizer assim aos donos da loja: “Olha, desculpem o transtorno, fazemos isso para garantir a integridade física de vocês, nunca se sabe né? Passamos ali na porta, vimos vocês sozinhos né, com um rapaz...” Ponderou a fala o guarda. Tive a vontade de lhe dizer para continuar a frase, dizer claramente que viu o casal sozinho na loja com um rapaz suspeito, suspeito só por ser negro, apenas por isso, e pensou que ele fosse assaltar o comércio, mas calado fiquei. Ele deu boa tarde ao casal, passou por mim novamente sem me olhar no rosto e apenas ergueu a mão me entregando meus documentos. Saíram os dois e eu fiquei ali, sem chão, com uma sensação meio ruim. Não me senti humilhado, nem nada disso. Apenas senti mais uma vez na pele que o problema da discriminação racial ainda não está próximo de um final feliz. Acho até que não verei o dia em que todos os homens concordem, como queriam Bob Marley e Martin Luther King. Tomei uma água com açúcar que o casal ofereceu e fui embora. Final triste? Não, de jeito algum. Passada uma semana deste episódio consegui o emprego citado no início do texto! Bola pra frente!

Marcos Paulo Moreno Felix/ jornalista formado pela universidade IMES em dezembro de 2007
Texto baseado em fatos reais
17/06/2008

ps: Este texto possuí alguma gírias para tentar expressar melhor a linguagem usada pelos policiais. A palavra “fita”, no caso, seria uma pergunta como: Qual é o plano?
Eu usei propositalmente a palavra senhor para deixar claro às pessoas como os policiais em geral fazem questão deste pronome de tratamento quando alguém lhes dirige a palavra