terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Os sonhos não envelhecem

Apenas mais um dia. Despertador tocando às 5 hs da manhã, o pingado na padaria, o rosto denunciando o sono ainda remanescente, a ida para o trabalho, o retorno pra casa, a ida aos ensaios da minha banda, a volta... Enfim, o chamado cotidiano. Para muita gente, isso é um fator de desagrado em suas vidas. A rotina incomoda de tal forma certas pessoas que acaba destruindo a percepção de muitas delas. A minha não, pelo menos gosto de pensar assim. Observo tudo ao meu redor. Guardo em minha mente coisas que me chamam atenção com uma até impressionante facilidade. Necessito disso para exercitar uma das coisas que mais gosto de fazer: trabalhar na criação de letras musicais ou escrever textos, como este aqui. Em menos de uma semana, duas pessoas me fizeram refletir sobre duas coisas que são distintas, porém estão sempre próximas uma da outra. Em um bate papo normal que de repente tornou-se muito interessante, a primeira pessoa me fez uma pergunta que há muito tempo não respondia. Foi curto e grosso, dizendo de uma só vez: E aí cara, você ainda tem sonhos na vida?Me senti meio bobo de responder aquilo, sei lá... Achei que o cara iria rir ou coisa parecida, mas não! Ele ficou ali, observando como se precisa-se ouvir aquela confissão e ter uma referência para utilizar em sua própria vida. Falei tudo que tinha em mente e refiz a questão ao meu amigo. Para minha surpresa, ele me disse não ter sonhos, que era uma pessoa triste. Sabia que o cara diante de mim havia passado por alguns problemas particulares, mas não que tivesse perdido suas metas. A segunda pessoa, em uma conversa mais distraída e regada a algumas latas de cerveja, revelou-me que seu principal sonho era lutar para a criação de um mundo melhor. Acredita que para isso ocorrer de fato, deve haver todo um processo de reestruturação, distribuição de renda e inclusão social. Trabalha ativamente em um projeto social desenvolvido por ele mesmo para tentar ver esse desejo se realizar. As duas experiências a que me referi neste texto são a desilusão e a esperança. Eu particularmente opto por seguir a segunda, e espero que ao ler este texto, meu primeiro amigo volte a sonhar, assim como meu segundo amigo Pablo Bastos, eu e tantas outras pessoas. Os sonhos não envelhecem. Precisamos deles para podermos fazer algo de melhor para nossas vidas e para o mundo. Sonhe!

Marcos Paulo Moreno Felix

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Quatro olhos

Eu estava trêmulo, nervoso e com medo. Tinha decidido que a faria, pois não agüentava mais aquela situação que me incomodava há anos. Mas depois que assinei um termo declarando que estava ciente de todo e qualquer risco que aquilo envolveria quase desisti. Várias coisas me passaram pela cabeça, como quando a professora Iraci chamou minha mãe à escola e lhe comunicou: “Dona Marisa, seu filho não consegue enxergar as palavras que peço para ele ler na lousa. Sugiro que a senhora o leve a um oftalmologista”! Era o começo de uma nova era para mim. Eu tinha apenas sete anos – se não me falha a memória – e já estava assim (pelo menos no meu ponto de vista), condenado a passar a minha vida inteira usando óculos, pois afinal de contas, meu pai também usava os tais quatro olhos. Senhoras e senhores, muito prazer, esta é a chamada genética! Ao usar meus primeiros óculos, senti logo de cara uma grande e importante diferença. Eu voltei a enxergar! Tinha miopia e astigmatismo, e como todo míope (não importando muito a graduação do sujeito), ao ocorrer algum incidente, como por exemplo, as lentes do óculos se quebrarem após alguma queda ou choque, era um Deus nos acuda para poder ver alguma coisa. Isso já gerou histórias formidáveis em minha infância, como por exemplo, confundir todas as pessoas, tomar ônibus errado, várias furadas jogando futebol e até mesmo chamar a namorada de um amigo de gostosa na frente dele, obviamente sem saber que era ela (mil desculpas Billy, sabes que não fiz por mal), etc...
Mas isto estava por um fim, finalmente iria operar. Minhas lembranças foram interrompidas pela voz da enfermeira: “Por favor, senhor Marcos Paulo, chegou a sua vez!”. Sorri para não chorar e fui ao encontro da moça. Ela me pegou pelo braço e disse que tudo ia ficar bem. Entramos na sala de cirurgia e um pequeno japonês foi se apresentando como o médico responsável pela operação. Deram-me uma espécie de relaxante muscular e me mandaram sentar na cadeira. Obedeci... Ao meu lado direito a jovem enfermeira que tinha ido me buscar, ao meu esquerdo uma outra moça aparentando ser um pouco mais experiente. Havia no centro uma espécie de máquina muito parecida com um telescópio, que girava de um lado para o outro obedecendo às ordens dadas pelo seu mentor, o japonês que não me recordo o nome. Pensei comigo mesmo: “Os orientais são bons em tudo que é tecnologia mesmo, ainda bem...”, isso me deu certo alívio. “Tudo pronto?” Perguntou ele às meninas. “Ainda não doutor!”, responderam elas em tom sério! Abriram meus olhos ao máximo que conseguiram e puseram uma espécie de esparadrapo que não os deixa fechar de jeito nenhum. Seguraram os meus dois braços e puseram uma espécie de imobilização neles.
O braço do robô começou a girar e veio em minha direção. Dei um grito que fez todos dentro da sala cair em risos. “Calma moço, é assim mesmo!”, disse a auxiliar da direita. “Nem as meninas que vieram aqui hoje deram um grito desses!”, deixou escapar em tom irônico a da esquerda. “Que vexame estou dando”, pensei comigo... Agora a estratégia mudou. Elas se debruçaram de tal forma perto do meu rosto, (creio que para ficarem mais atentas a qualquer tipo de movimento que eu pudesse tentar fazer por instinto), que isto me permitia ver claramente ambos os seios. “Isso sim é um relaxante muscular que funciona”, pensei novamente antes de ouvir o barulho da geringonça. “Olhos atentos na máquina meu rapaz, pois o raio laser vai passar e você deve olhar fixamente para ele, para que ele possa fazer a correção na sua vista”, disse o doutor. Cheiro de queimado no ar, um pouco de dor e depois de aproximadamente oito minutos vejo a máquina sair do meu alcance de visão. As moças rapidamente passaram uma série de colírios em meus olhos e soltaram as amarras. A cadeira se desinclina e fico com o corpo reto. Estava meio tonto, com dor de cabeça, dor na vista... O médico coloca um óculos escuro em minha cara e me faz uma só pergunta: “Marcos, por favor.. Que horas são?”. Ele aponta um relógio de parede que estava aproximadamente uns sete metros de minha frente. Eu olho sem entender muito bem o porquê da questão tão estúpida e respondo: “Três e meia doutor”! E novamente todos caem na risada. Ele me fita os olhos e pergunta se eu não notei nada ainda. Raciocinei meio atordoado e refleti que não precisava mais usar óculos, pois enxerguei sem problema algum!
Para as pessoas que tem uma vista saudável isto não é nada, mas para quem sofre de miopia ver algo a sete metros de distância é como se fosse mágica!
Saí da sala de cirurgia e encontrei minha mãe e meu amigo Ismair que esperavam o desfecho da jornada. Possivelmente foi um dos dias mais felizes da minha vida!