sábado, 28 de março de 2009

Brasil melhor

Estive pensando em certo assunto estes dias.Uma colega vendo-me tocar violão,revelou-me que a música que eu cantava era a mesma que seu pai entoava à ela (ainda crescendo no ventre materno) e à sua mãe, durante o período de gravidez. A música em questão era “Drão”, grande sucesso da carreira de Gilberto Gil.
Drão é uma das canções que eu mais gosto de Gil e não sei bem qual o contexto que levou o pai a escolher esta música para suas duas mulheres. Digo contexto, por que esta canção foi criada após a separação do casal Gilberto Gil e Sandra. Sandra era a segunda esposa do cantor, mãe de Preta Gil e que é apelidada carinhosamente pelo ex-ministro da cultura de Drão.
Para ela Gil compôs os versos:
“Drão, o amor da gente é como um grão
Uma semente de ilusão
Tem que morrer pra germinar...
Plantar em algum lugar, ressucitar do chão, nossa semeadura...
Quem poderá fazer aquele amor morrer nossa caminha dura...
Dura caminhada, pela estrada escura...”
Drão, não pense na separação
Não despedace o coração, o verdadeiro amor é vão
Estende-se infinito, imenso monolito, nossa arquitetura...
Quem poderá fazer aquele amor morrer, nossa caminha dura
Cama de tatame pela vida afora...”

É claramente uma canção de separação, mas não de mágoa. Diz que o amor tem que morrer pra germinar, ressucitar do chão...Gostei da escolha, mas não a entendi muito bem, por isso preferi a de meu pai. Pode ter sido talvez, por situações diferentes de gestações e de relacionamento... Acho que a canção “Drão” não combina com o nascimento de um filho...
Quando minha mãe estava grávida de mim, meu pai cantava à ela os versos de um grande sambista. Quando tive conhecimento disso,há muitos anos atrás,fiquei muito feliz. Meu pai nunca gostou de samba, imaginem só....Sempre gostou de soul music, principalmente americana. Música brasileira talvez não seja seu grande forte até hoje, mas cantava os seguintes versos:

“Está em você o que o amor gerou
Ele vai nascer e há de ser sem dor
Ah, eu hei de ver você ninar e ele dormir
Fazê-lo andar, falar, cantar e sorrir...
Pois então quando ele crescer
Vai ter que ser homem de bem
Vou ensiná-lo a viver
Onde ninguém é de ninguém
Vai ter que amar a liberdade e só vai cantar em tom maior
Vai ter a felicidade de ter um Brasil melhor...

Na barriga de minha mãe eu já ouvia versos de Martinho José Ferreira, ou simplesmente Martinho da Vila. O mais impressionante foi a escolha da canção (que é lindíssima) e meu pai interpretando-a. Já nasci com um pé no samba. Espero poder repetir a mesma música a um filho meu um dia e desejá-lo a sorte de também ter um Brasil melhor... Obrigado pai, te amo!

Um comentário:

Menina Marina disse...

Marquito, querido. Acho que essa música, Drão, refere-se a uma grande constatação, que é a tranformação dos amores (todos eles) e não o fim. No caso da mãe grávida, ela ia se separar de um bebê que até então fazia parte dela, não que fosse deixar de ser, mas aconteceria a tal separação. Por isso era tão significativa a música. E durante a vida, é certo que essa mãe e filha se separaram e ainda vão se separar muitas vezes. Mas, "não pense na separação, o verdadeiro amor é vão". Acho que cantarei essa mesma música se um dia eu for abençoada com um filhote!
Beijos