quinta-feira, 25 de junho de 2009

A última dança

Estou aos prantos. Não acredito no que vejo e ouço, estou pasmo! Estava pronto pra sair de casa quanto o telefone tocou. Bocão me disse: “Marquito, liga a tv e a internet rápido”. Desliguei o aparelho e quase caí duro... Há cerca de três meses acompanho diariamente as noticias daquela que seria a volta de Michael Jackson aos palcos. Londres seria a capital escolhida para o retorno do Rei do Pop. O mundo musical estava agitado, todos só falavam nisso. Os ingressos dos 50 shows que Michael faria se esgotaram em minutos. Eu estava delirando, como queria ver meu grande ídolo novamente em ação!
Julho estava próximo, os ensaios a todo vapor, o repertório pronto, polêmicas circulando, enfim, prato cheio...
Agora ligo a televisão e me deparo com a notícia: Michael Jackson morre aos 50 anos!
Demorei a crer. Entrei em todos os sites, liguei pra várias pessoas pra saber se realmente aquilo era verdade, chorei, rezei...
Ainda havia uma esperança. Enquanto todos os sites davam a morte do cantor como certa, a CNN ainda não confirmava a notícia...
Me apeguei aquilo como única chance, mas de nada adiantou... Eles também confirmaram a triste notícia.
Arroz e feijão, cinema e pipoca, cerveja e porção de fritas, sei lá... Nada disso é tão bem combinado quanto Michael e a música, isso em sua forma mais ampla. Canto, dança, marketing, letra, som...
Possivelmente neste texto existem vários erros de concordância, confesso que nem o examinei... Estou totalmente emocionado, triste, chocado...
Acredito no velho ditado que diz que Deus escreve certo por linhas tortas. Vai ver que a volta de Jackson seria um grande fracasso, quem sabe... Sua volta poderia ser a sua grande ruína... Acho que o Bom Senhor quis ver um grande concerto de Michael e resolveu chamá-lo para uma grande apresentação.
Dance e cante Michael, emocione os anjos e contagie todos como só você fez em termos de música. Descanse em paz meu amigo...

Marcos Paulo Moreno Felix

terça-feira, 2 de junho de 2009

Divina Arte

O movimento começou com o Júlio, um cara que se mudou para o mesmo condomínio em que morávamos. Ele era meio gordinho, falava gírias, tinha tatuagens... Um bom malandro. Tocava pandeiro, tan tan, cavaquinho e conhecia uma rapaziada boa, a quem ele se juntava para fazer parte de um grupo de samba. Os ainda meninos do meu prédio estavam fissurados com a nova onda da juventude do nosso bairro: o samba
Influenciados pelo Júlio, que já tocava há algum tempo, decidiram montar um grupo, o qual eu não fazia parte...Meus pais ouviam muita música brasileira, soul americano, mas não se ouvia muito samba em minha casa, exceto os grandes clássicos de Martinho da Vila!
A formação dos caras era: Zé no banjo, Bozó no tan tan, Daniel no reco-reco, Nibinha no pandeiro e Julio eventualmente dando uma força no cavaquinho. Ninguém sabia tocar nada, íam na raça, com o mestre Júlio ensinando a todos.
Eu treinava capoeira e tinha meus primeiros contatos com instrumentos de percussão. Comecei o tocar pandeiro muito bem e tinha boa noção de tempo, mas continuava sem ouvir samba. Fui assistir meus amigos em uma apresentação no Clube dos Meninos, aqui no Rudge Ramos mesmo e fiquei apaixonado por aquilo tudo.., Pelo samba, pela alegria e pela música... Voltei pra casa pensando em como podia eu não fazer parte daquele conjunto, pois eu morava no mesmo prédio que o pessoal, mas o Nibinha nem morava aqui, era da vila de cima... Fiquei com raiva, mas ele tocava muito bem pandeiro, e conhecia muitos sambas... Continuei acompanhando o pessoal em pequenos shows, sempre vendo o Nibinha tocar e treinando pandeiro nas aulas de capoeira. Aconteceu que um dia, não sei se por uma briga, o Nibinha decidiu sair do grupo dos meninos. O Zé veio me chamar em casa com o pandeiro que ele tinha comprado para o grupo e me deu. Me disse que eu faria parte do conjunto, e tinha que aprender a tocar rápidamente. Puxa, como fiquei feliz!
Não demorou muito e comecei a conhecer muitos sambas, muitos grupos de samba, a comprar muitos discos e a tocar cada vez melhor. Demos um nome ao novo grupo que montamos. Divina Arte! Zé no cavaquinho, Bozó no tan tan, Daniel no reco-reco, eu no pandeiro... Mesmo assim faltava alguma coisa. Tinha um tal de Betinho que morava no prédio vizinho ao nosso que vivia com um cavaquinho no braço. Sentava no bar do Gentil e ficava tocando com um velho pandeirista da região. Fomos vê-lo tocar e gostamos, ele era muito bom... Ele aceitou participar do grupo, mas queria que um amigo dele também entrasse. Então veio o Cabelo para ser o vocalista junto com próprio Betinho (que também cantava muito bem). Eles nos falaram que conheciam o Vando, que também tocava percussão, e que de repente poderia somar. Vandinho era um cara que eu não gostava, achava ele meio marrento. Quando fomos chamá-lo vi que eu estava errado.. Vando era um cara de paz, muito gente boa e que tocava muito bem! O Divina Arte começou os ensaios a todo vapor. Éramos capazes de ficar horas sem comer ou beber nada só pra acertarmos uma música. O time era bom, modeste a parte... O samba saía redondo, mais faltava algo pra dar um peso maior na harmonia, pois contávamos somente com o cavaquinho e um banjo... Foi aí que o Tisgo começou a se aproximar da rapaziada com seu violão. Ele também era do bairro, e isso facilitava. Pronto, o Divina Arte estava completo. Começamos a fazer sambas de roda no próprio Rudge, e aos poucos fomos ficamos conhecidos no bairro inteiro! Fazíamos pagode em pontos estratégicos do bairro, como faculdades, bares, praças... Aos poucos fomos nos jogando para fora de São Bernardo. Tocamos no grande ABC inteiro, em São Paulo, em incríveis festivais de música e até mesmo no litoral. Dei autógrafos (quem diria), e me sentia popular. Aos poucos comecei a deixar de fazer somente o coral das músicas e ganhei algumas canções para fazer sozinho ao vocal. Nosso auge foi a abertura de um show do cantor Maurício Manieri no paço municipal de São Bernardo lotado. Foram longos 6 anos tocando na noite, em festas, eventos,escolas de samba, etc.. Mas como nada é para sempre o casamento foi se acabando. Nos dávamos muito bem, mas chegou uma hora que os objetivos do grupo não eram mais os mesmos... Isso gerou mudança de formação. Roberto Cabelo nos deixava, seguido de Eduardo Zé, Renato Tisgo e Daniel. Denise Camburão, hoje vocalista da banda Filosofia Reggae assumiu os vocais. Mantivemos a base toda, e com o vocal poderoso de Denise ainda tocamos mais algum tempo, mas a velha magia e a gama pela música tinham nos deixado. Decidimos parar, por um fim na história. Este ano o Divina Arte completaria 10 anos de estrada se estivesse em atividade, por isso resolvi falar sobre ele neste espaço. Várias pessoas ainda lembram de mim e de meus amigos por este “pequeno grande movimento” que fizemos pela música, em especial pelo samba. Isso certamente nos deixa muito feliz! Esta foto é de 8 anos atrás... Não é muito boa, mas é uma das únicas que achei pra matar saudades...

Marcos Paulo Moreno Felix